Escrito por: Pedro Rubens
A estrutura narrativa de uma série garante para os roteiristas uma maior abertura no que diz respeito ao desenvolvimento de arcos. Construir uma história e dividi-la em episódio permite que as questões sejam explicadas, os enredos sejam bem elaborados e as soluções sejam bem trabalhadas. Dividir uma temporada em duas partes pode ser uma ótima estratégia de marketing, uma oportunidade para consertar erros ou pode ser um grande tiro no pé.
A segunda parte da quarta temporada de Stranger Things, série original Netflix, nos apresenta o desfecho do arco envolvendo Eleven e seus amigos lutando contra Vecna. Com duração acima de 1hr, os dois episódios finais nos contam mais sobre o que aconteceu com 001 após entrar no Mundo Invertido, como conseguiu juntar seu exército monstruoso e planejar seu retorno para Hawkins.
Diante das diversas pontas soltas deixadas após o término do episódio 07, Stranger Things volta mais “madura” e mostrando que aprendeu com os erros da primeira parte da temporada, porém as promessas de um final apoteótico fica apenas no quesito produção. A temporada, em si, tem um desfecho emocionante porém não consegue ser diferente de tantos outros finais já vistos por aí.
O que anteriormente estava fragmentado entre Hawkins e o laboratório que Eleven se encontrava, o arco principal agora consegue mostrar que se concentra em apenas um objetivo: derrotar Vecna. A união desses dois ambientes, mesmo que por telecinese, faz com que as coisas funcionem e a história começa a sair da estagnação caminhando para o final.
Por outro lado, o arco da União Soviética passa de alívio cômico para nada. Deixados de lado, Hoper, Joyce e seus novos amigos tem uma história apressada apenas para ser finalizada de qualquer maneira. E que bom, afinal não tiveram serventia alguma durante uma temporada completa!
A longa duração dos episódios também não foi um problema e é justificada pelas sequências que levam adiante alguns arcos e concluem outros. Dois episódios que poderiam facilmente ser quatro, mas o trabalho da equipe na pós-produção tornou tudo dinâmico o suficiente para não cansar e nem desanimar o público.
A melhor parte de Stranger Things, e talvez uma das melhores capacidades dos irmãos Duffers, seja na criação e desenvolvimento de personagens secundários. Max, Robbin, Erica, Steve e Eddie roubam a cena, e até o protagonismo, sustentando a temporada e cativando ainda mais o público.
Quanto ao elenco que já vem desde a primeira temporada, Dustin, Nancy e Will são os que ainda demonstram conseguir acompanhar o desenrolar da série. Os demais, infelizmente, ficaram pelo caminho…
Até a própria Eleven parece sofrer com isso! Ora ainda parece ser criança, ora já é adulta demais. Talvez a série tenha se perdido na passagem temporal entre as temporadas. Ou isso seja apenas uma dificuldade em construir protagonistas.
De longe o maior acerto desses dois últimos episódios foi a direção. O trabalho desenvolvido pelos irmãos Duffers é algo fora de série! Até em cenas que poderiam ter sido melhor desenvolvidas pelo roteiro, como a dos tiros/helicóptero, a direção dá aula de como montar as peças de um quebra-cabeças, priorizando o caminho e apontando para o desfecho, mesmo que este não seja satisfatório.
Stranger Things encerra seu quarto ano com uma produção apoteótica, mas com um roteiro preguiçoso que já apresenta sintomas de cansaço. Sem saber qual o rumo que a série vai seguir a partir de agora, nos resta a torcida para que sejam episódios bem desenvolvidos, com um roteiro coeso e sem medo de abraçar a tragédia.
Nota: 8.75