Escrita por: Amanda Kassis
Este texto contém spoilers sobre o desfecho da nova temporada.
Quase dois anos após a audiência acompanhar a saga dos irmãos Hargreeves lutando contra o apocalipse (de novo), 'The Umbrella Academy', série baseada nos quadrinhos de Gerard Way e Gabriel Bá, retorna para a 3ª temporada apostando na mesma fórmula já conhecida pelos fãs.
Aqui vai um resumo para quem já se esqueceu dos acontecimentos da 2ª temporada: após Vanya destruir o mundo, os irmãos viajam ao passado, mas acabam separados e presos em períodos diferentes dos anos 60. Mais uma vez, o apocalipse os persegue, a culpa continua sendo da Vanya, e quem fez o sacrifício final foi Ben. Quando retornam ao presente, descobriram que suas ações criaram uma nova linha do tempo, na qual eles não foram adotados (leia-se comprados) por Reginald Hargreeves. O bilionário escolheu outras crianças também nascidas em 1º de outubro de 1989 e fundou a Sparrow Academy.
Antes de qualquer outra coisa, é necessário falar de uma mudança trazida para 'The Umbrella Academy'. De maneira bem sensível e respeitosa, os roteiristas abraçam algo que ocorreu fora das telas: antes das gravações da nova temporada, Elliot Page, que interpretou Vanya nas duas primeiras temporadas, compartilhou que é um homem trans. Isso levou à transição de gênero também do seu personagem, que revelou aos irmãos que sempre foi Viktor.
Essa não é a única mudança, temos personagens com rostos já conhecidos, porém com personalidades completamente diferentes, e uma academia de super-heróis que, em teoria, deu certo. É claro que por trás do glamour e sucesso dos 7 novos irmãos Hargreeves, eles possuem traumas e conflitos internos, e estão a um passo da autodestruição.
A chegada dos Umbrellas é a gota d'água para revelar os problemas escondidos e não demora para os Sparrows irem caindo um a um. A rápida morte de alguns deles e a falta de destaque de outros é um desperdício, pois eles eram o elemento novo que poderia acrescentar à fórmula da série, que começa a mostrar sinais de desgaste. Apenas Sloane e a nova versão do Ben – o único do grupo original ainda adotado por Hargreeves, já que o bilionário não o conheceu na temporada anterior – são relativamente aproveitados.
A série gasta a primeira parte da temporada mostrando aquilo que os irmãos sabem fazer de melhor: focar nos próprios problemas mesmo com o destino do mundo em jogo. Five continua sendo o cérebro por trás do grupo, Allison assume o papel central da narrativa sobre trauma – já que ela perdeu a filha e o amor da sua vida –, Klaus continua carregando o alívio cômico e o seu intérprete traz as melhores performances do elenco, e Viktor toma decisões egoístas que colocam a vida de todos em jogo. Então, nada novo por aqui.
Há algumas histórias diferentes em meio à mesmice. Diego descobre que é pai e tenta encontrar seu caminho de volta à Lila, personagem introduzida na 2ª temporada que rapidamente se tornou uma das mais queridas pelo público. Já Luther, que deveria ser o líder dos Umbrellas, se distrai com o seu romance estilo Romeu e Julieta, entretanto bastante forçado, com Sloane. Para quem parecia tão apaixonado por Allison desde o início da série, ele acaba caindo rapidamente nos encantos da Sparrow, e a relação deles serve como gancho para aproximar as duas famílias.
A relação dos dois possui tanto destaque que há um episódio inteirinho dedicado ao casamento deles. Afinal, para que esperar quando o universo todo está sendo destruído? É apenas um dos sinais que revela a bagunça dos novos episódios. Não há nada de errado em tirar um tempo da ação para se dedicar ao desenrolar dos conflitos emocionais dos personagens, isso é importante para tornar a narrativa mais rica, porém a temporada possui pelo menos 3 episódios que podem ser resumidos como puro drama, não acrescentando em nada ao plot principal.
Embalados por uma trilha sonora impecável, o que talvez seja o melhor aspecto da temporada, a segunda parte traz crescimento para alguns personagens e foca mais no apocalipse. Com os seus altos e baixos, a energia caótica trazida pelos irmãos Umbrella, que se unem antes tarde do que nunca, permanece presente e é isto que é capaz de segurar a audiência. É a parte da fórmula que é inegavelmente boa e não deve ser mudada.
No fim, é revelado que tudo não passava de um plano centenário de Reginald Hargreeves, que continua sendo um pai tóxico independentemente da linha do tempo. Ele quer reiniciar o universo para trazer de volta Abigail, sua falecida esposa que era desconhecida até então. Ao longo dos séculos, o bilionário alienígena viu incontáveis mundos sendo destruídos, incluindo o próprio, e dedicou sua vida a reunir seres extraordinários – os irmãos Umbrella e Sparrow – para que pudessem completar essa missão.
Será que ele conseguiu alcançar o seu objetivo? Para obter essa resposta a audiência terá que persistir em meio aos 10 episódios divertidos, mas pouco criativos. O que pode ser adiantado é o seguinte: a pior temporada possui o desfecho mais surpreendente – é mais uma prova de que os roteiristas tinham uma excelente ideia, porém se perderam em meio à execução.
Quer conferir a nova aventura dos irmãos Hargreeves? A 3ª temporada completa de 'The Umbrella Academy' já está disponível na Netflix. A série ainda não foi renovada para a 4ª temporada.
Nota: 8.5