Crítica - Paper Girls
Escrito por: Pedro Rubens
A homogeneidade de estruturas narrativas vem sendo cada vez mais explorada, limitando as produções a se apegarem única e exclusivamente a características exclusivas do gênero ao qual pertencem. Ainda que essa seja a tendência atual da indústria, deixar a criatividade rolar solta e inserir elementos de outros gêneros sem fugir da proposta inicial tem suas vantagens.
Paper Girls, nova produção do Prime Vídeo, adapta a Grafic Novel criada por Brian K. Vaughan e nos apresenta a história de quatro adolescentes entregadoras de jornais. O que elas não esperavam é que, na madrugada depois do Dia das Bruxas de 1988, iriam se deparar com viajantes do tempo, criaturas aladas bizarras e o misterioso Grande Pai.
Toda a fluidez da criação de Brian e a espetacular ilustração de Cliff Chiang se fazem presentes na adaptação, desde a coloração neon contrastando com a moda do final da década de 80 até às ideias arquitetônicas e modo de ser. A estética de Paper Girls é muito singular, ultrapassa as páginas e chega ao streaming mostrando uma produção muito bem elaborada e adaptada com fidelidade, mesmo em meio às dificuldades.
Alguns seres da Era Mesozóica, animais e monstros gigantes não aparecem de imediato, mas em suma isso não é prejudicial. Por outro lado, essa aparente ausência é compensada com um elenco impecável! As quatro adolescentes e suas respectivas versões adultas poderiam facilmente ser irmãs na vida real e absolutamente ninguém duvidaria. A ligação é evidente e completamente notória, além da absoluta entrega aos seus personagens, o que corrobora ainda mais com a ideia da série.
Uma das melhores coisas da produção é não ter vergonha de ser teen e usar isso como força motriz no decorrer da temporada. A adaptação criada por Stephany Folsom encontra a fórmula perfeita para equilibrar uma série sobre adolescentes, essencialmente juvenil, com uma linguagem para adultos. Isso acontece por dois motivos: o elenco adolescente e adulto estão intrinsecamente ligados e a narrativa é consciente sobre aonde quer chegar.
Os temas tratados durante os 8 episódios não fogem do caos que é a fase adolescente e que todos nós enfrentamos, mas não desembocam em romantização, pelo contrário, abraçam a dureza da vida real e tentam mostrar as indagações que surgem nesse período e perduram ao longo da vida. Isso acontece a partir do encontro das protagonistas com suas versões no futuro, que enfrentam o choque de identidade, de gerações, sonhos, metas e realizações.
Milimetricamente pensado, o texto de Paper Girls nos apresenta um estudo de personagens que consequentemente nos proporciona fazer um estudo sobre nós mesmos. Confesso que alguns dias após assistir os episódios me peguei pensando sobre a avalanche de reflexões que a série evoca e o misto de emoções que sustenta durante a temporada.
Paper Girls abraça a adolescência e todos os seus problemas, reverberando isso na sua estrutura e na maneira como conta uma história recheada de sentimento e força. É notório que a produção não teve medo de levantar debates, aprofundar temas e mostrar o conflito geracional. A capacidade de abraçar esse risco com irreverência e criatividade torna a série uma das grandes produções do Prime Vídeo.
Nota: 8,75
Paper Girls