Escrito por: Pedro Rubens
Conhecer a própria realidade e não ter medo de escancarar a própria face é uma das características da produção audiovisual brasileira. Eu poderia citar inúmeras produções que mostram situações muito próximas do nosso cotidiano, apresentadas nos mais diversos gêneros: ficção científica, comédia, drama, ação, etc.
Bom dia, Verônica, série original Netflix, nos apresenta uma escrivã da polícia de São Paulo e suas investidas em derrubar a teia de corrupção que se instaurou dentro do sistema carcerário e judicial brasileiro. Abordando casos de suicídio, abuso sexual e dilemas dos mais variados, a série se consolidou como uma das melhores produções nacionais da Tudum.
Baseado no livro escrito por Ilana Casoy e Raphael Montes, a série se desprende de todo medo e coloca o dedo nas feridas sociais que nossa sociedade encara todos os dias. Ao quebrar estereótipos a produção nos entrega casos dificílimos de ver em tela, porém, brilhantemente elaborados para causar no espectador um misto de emoções.
Não estranhe se em uma cena você estiver emocionado vendo as crises familiares vividas pela protagonista e em seguida sentir ódio por apenas ver determinados personagens. O clímax construído, tanto na primeira quanto na segunda temporada, segue firme em ascensão, concluindo arcos e abrindo novas portas para o que vem no futuro.
Com uma direção muito bem arrojada, a série exala firmeza e garante um combo perfeito entre todos os elementos, desde a escolha de locações até a escolha dos figurinos. Inclusive, a entrega do elenco é algo fora do normal e confesso que por inúmeras vezes me peguei pensando sobre como deve ser difícil fazer todo o processo de pesquisa na pré-produção, bem como, sair do personagem durante as gravações.
No decorrer das duas temporadas fica evidente o crescimento exponencial nas técnicas utilizadas. Os cortes de câmera são mais bruscos, os takes que captam apenas olhares ou cenas aleatórias não estão dispostos nos episódios de forma solta, mas corroboram com o que o texto ousa em dizer.
Bom dia, Verônica é arriscada em todos os aspectos: traz uma protagonista feminina, policial, envolvida em casos de corrupção dentro da sua própria delegacia e que ainda precisa lidar com os problemas pessoais e familiares. Porém, em momento algum titubeia na hora de mostrar que uma ou muitas feridas podem ser curadas desde que sejam tratadas.
Nota: 8.75