Escrito por: Pedro Rubens
Encontrar uma produção que consegue manter-se fiel à proposta inicial, e segue dessa maneira até o fim da temporada, é algo que tem sido cada vez mais difícil. Rotineiramente ouvimos relatos de roteiristas que reclamam da intervenção do estúdio ou da equipe de investidores, obrigando-os a mudar determinadas coisas e situações. Mas às vezes é possível achar uma agulha no palheiro…
She-Hulk: Attorney at Law, nova série da Marvel Studios para o Disney+, segue a história da advogada Jennifer Walters e todas as reviravoltas que sua vida dá após um grave acidente. O contato com o sangue do seu primo Bruce Banner, o Hulk, faz com que as suas células se desenvolvam e transformem-na em uma Gigante Esmeralda.
De forma mirabolante a história não tem absolutamente nenhum compromisso com a seriedade. Seguindo o caminho oposto, abraça por completo o cartunesco, a caricatura e o absurdo ao criar, ouso dizer, a série mais diferente de todas já produzidas pela Casa das Ideias.
Arriscando em não ter uma história séria o MCU adiciona ao catálogo uma personagem nos mesmos moldes que fazia há alguns anos, quando construía personagens e os introduzia ao Universo Cinematográfico. Sem pressa, sem exigências e nem tampouco sem exigir a todo custo a atenção do público, a história sobe degrau por degrau transformando a advogada Jennifer Walters na poderosa She-Hulk.
A quebra da quarta parede, as piadas ácidas, a aberração cromática pelo excesso de cores e, por vezes, até a vergonha alheia, faz com que a série seja uma mistura homogênea, um quebra-cabeça onde todas as peças se encaixam brilhantemente. E conduzir uma temporada de maneira leve, consciente de si, de onde quer chegar e sem desviar-se da proposta irreverente a que se propõe é algo que a Marvel, aparentemente, tinha esquecido como fazer.
Ainda que She-Hulk não tenha uma vilã que seja ameaçadora durante toda a temporada, que as participações especiais sejam em grande quantidade e que um episódio como o do retiro pareça não fazer sentido, sem seguida vemos as consequências daquilo e o saldo final torna-se extremamente positivo, principalmente diante de uma season finale espetacular como o foi!
Aqui não existe repetição da mesma fórmula com uma nova roupagem, mas há muita singeleza e características peculiares, mas próprias desta produção.
Enquanto muito se falava sobre a péssima qualidade dos efeitos visuais, pouco se falava sobre o excepcional protagonismo de Tatiana Maslany, que roubava a cena e detinha tudo na palma da sua mão. A falta de realismo nos efeitos não foram um problema diante da grandiosa entrega da atriz, que demonstrava a todo momento estar feliz ao dar vida à Jennifer.
Talvez já seja a hora de parar de criticar os efeitos visuais das séries e redirecionar as críticas ao estúdio, que age de maneira tão irresponsável. Não precisa ir muito distante para entender a situação, afinal, na mesma internet que você lança críticas ao CGI tem uma lista de matérias onde os profissionais da área comentam sobre como é trabalhar para a Marvel. Tendo isso em mente, conseguimos redirecionar as críticas para o alvo certo, afinal a própria protagonista faz piadinhas quanto a isso no último episódio…
She-Hulk nos apresenta uma nova personagem e propõe isso de forma caótica e mirabolante, mas entendendo a necessidade de construí-la gradativamente. Que as próximas produções da Casa das Ideias consigam repetir este feito e voltem a inserção satisfatória de novas histórias, deixando de lado os exemplos anteriores onde éramos obrigados a aceitar qualquer coisa mal criada e desenvolvida.
Nota: 8.33