Escrito por: Leonardo Markana
Smiley, romance LGBT+ lançado pela Netflix, nos apresenta a Álex - auge da juventude, extrovertido, corpo extremamente malhado e que claramente se preocupa com sua aparência e rotina fitness - e Bruno - introvertido, arquiteto bem sucedido, apaixonado por filmes, e levemente solitário. Dois personagens que não poderiam ser mais diferentes entre si, mas que por algum motivo, se conectam de uma forma que nenhum dos dois sabe explicar direito.
Álex é largado pelo ex-namorado sem muitas explicações, fazendo com que, em um acesso de raiva, grave uma mensagem de voz extremamente magoada na qual desabafa todas as suas frustrações e expectativas que ele tinha para uma vida de “felizes para sempre”. O único problema é que a mensagem de voz para na caixa postal de Bruno, que o escuta e resolve retornar a ligação.
A série não se propõe a quebrar nenhum paradigma dentro do gênero de produções LGBT+, pois continua sendo um romance entre dois homens brancos padrões, porém, ela não deixa de ser extremamente pontual ao apontar o dedo para muitos comportamentos problemáticos constantemente reproduzidos pela comunidade gay: a validação através de um corpo malhado, preconceitos com gays mais velhos, a constante carência que muitos homens sentem ao expressar que querem um relacionamento sério, mas não se abrem para novas possibilidades de conhecer pessoas que estejam fora de seus ideais estabelecidos.
Seus personagens secundários também recebem considerável destaque, em especial Patrícia e Vero, que precisam lidar com uma crise do relacionamento; e Javier, que apesar de ser o mais velho do grupo, se dá conta de que ainda pode existir uma chance para o amor em sua vida.
Smiley entrega o que promete, um romance cheio de encontros e desencontros entre seus protagonistas, mesmo que em algumas vezes esses desencontros passem um pouco do ponto e faça o telespectador passar nervoso na jornada (como foi o meu caso haha). Ao fazer críticas sobre determinados comportamentos de um nicho da comunidade, a série poderia ter ousado um pouco mais, como escalar atores que fossem de fato menos padronizados, e trabalhado em cima disso, ao invés de usar dois personagens que dificilmente seriam rejeitados com tamanha facilidade na vida real.
No final das contas, ela também acerta ao trabalhar a desconstrução de pensamentos e ideais pré-estabelecidos por Álex e Bruno, um dos muitos pontos que faz com que eles se desentendam o tempo todo durante a temporada, criando um angst bastante intenso entre os dois.
Como o futuro das produções Netflix é mais incerto do que nunca, Smiley pode ser encarada como uma minissérie, pois entrega um final conclusivo. Caso tenha uma chance, pode receber uma segunda temporada pra lá de bem vinda, pelo menos para essa pessoa que vos escreve.
Nota: 8.5