Piloto Comentado - Anne Rice's Mayfair Witches

Escrito por: Amanda Kassis

Este texto contém spoilers sobre o enredo.

No mundo da literatura gótica, a escritora norte-americana Anne Rice (1941-2021) teve o seu nome eternizado a partir de títulos como 'Entrevista com o Vampiro' (1972) – parte da série 'Crônicas Vampirescas' – e a trilogia 'A Hora das Bruxas', lançada nos anos 1990. Diversas de suas obras foram adaptadas para outros formatos, como longa-metragem, musical da Broadway e até quadrinhos. Agora, chegou a vez das poderosas e obscuras bruxas da família Mayfair ganharem vida nas telas.

'Anne Rice's Mayfair Witches' traz 8 episódios em sua temporada de estreia, disponibilizados semanalmente pelo canal AMC. Ela faz parte do 'Projeto Anne Rice', resultado da compra dos direitos de produção de 18 obras da autora para adaptações televisivas, em 2020. 'Interview with the Vampire' foi a primeira série a ser exibida e já garantiu sua renovação, será que 'Mayfair Witches' também agradará ao público e garantirá sobrevida em um canal que está passando por cortes de gastos?

O episódio piloto, intitulado 'The Witching Hour' – homônimo ao primeiro livro da trilogia – é uma introdução àqueles que não conhecem esse universo ficcional. As cenas intercalam passado e presente para contar a origem da protagonista Rowan Fielding (Alexandra Daddario), uma neurocirurgiã brilhante que foi adotada e desconhece sua linhagem sobrenatural. A jovem possui uma vida bagunçada, vivendo de maneira isolada em um barco, e tem a mãe adotiva (Erica Gimpel) como sua única conexão emocional. 

Quando Rowan começa a manifestar os seus poderes, qualquer indício de descontrole emocional resulta em derrames fatais nos personagens. Acreditando que possui um poder demoníaco dentro dela, a protagonista reacende seu desejo de encontrar sua família biológica para entender quem ela é e o que tudo isso significa. Entretanto, não é uma surpresa que Ellie, sua mãe adotiva, sempre soube que a filha era uma bruxa Mayfair.

O que torna este universo tão interessante é que as Mayfairs não correspondem às típicas bruxas que vemos na TV, como em 'The Vampire Diaries', 'Charmed' ou 'Sabrina, The Teenage Witch'. Anne Rice apostou em uma dinastia obscura e incestuosa, repleta de mulheres misteriosas, fervorosamente religiosas e dedicadas à magia negra – que residem em Nova Orleans em uma casa banhada em sangue e repleta de tragédias. Tudo isso parece ser consequência de Lasher (Jack Huston), o demônio invocado para transformá-las em poderosas e prósperas bruxas, no século XVII, e que as assombram até hoje.

Sem medo de apostar em temas obscuros, a narrativa é embalada por uma trilha sonora que ajuda a construir a tensão das cenas, e mergulha a audiência nesse universo regido por forças ocultas. A produção também não economizou nos figurinos ou cenários, que são ricos em detalhes. Já para os efeitos especiais, ainda não houve nenhuma situação que exigisse algo mais elaborado, portanto, há apenas pequenos truques facilmente feitos independentemente do orçamento disponível.

A respeito do elenco, também vale mencionar a presença de Annabeth Gish ('Deirdre'), Hannah Alline ('Suzanne') e Jen Richards ('Jojo'). O destaque, é claro, fica para Alexandra Daddario, intérprete da protagonista. Porém, a sua atuação, até o momento, não possui nada demais e relembra outros trabalhos da atriz. Talvez, ela simplesmente tenha uma preferência pelas personagens sofridas que possuam uma tristeza perpétua refletida em seus famosos olhos azuis.

Em resumo, a série teve um bom começo e fez jus ao tema gótico. Essa temática possui vários exemplos de sucesso lançados recentemente, tais como 'Sandman' e 'Wandinha' da Netflix, e a própria 'Interview with the Vampire' da AMC. É uma aposta inteligente do canal que está passando por uma crise financeira, o que resultou em diversos cancelamentos – incluindo produções com estreias marcadas. Será que os universos icônicos idealizados por Rice serão a solução para esses problemas?

'Anne Rice's Mayfair Witches' ainda não possui canal ou streaming para exibição no Brasil.

Nota: 7.5