Escrito por: Pedro Rubens
“O diferente vai mudar o mundo” foi o que recentemente ouvi alguém dizer. Coincidentemente, ou não, os três primeiros episódios da segunda temporada de Cidade Invisível parecem ter bebido dessa fonte e construído uma narrativa fundamentada no diferente, ainda que com um enredo já conhecido do público.
Seguindo os eventos que se sucederam após o fim do seu primeiro ano, a nova leva de episódios de Cidade Invisível começa abraçando o “ser diferente”. Se na primeira temporada conhecemos uma história linear, sem muitas nuances e muito menos aproximação com o que de fato são as crenças propostas em tela, agora, vemos o oposto.
A jornada do detetive Eric encontra-se em stand by, pelo menos inicialmente. O novo ano se inicia com sua filha, após dois anos, indo em busca do pai que está desaparecido. Com o auxílio da irretocável Cuca, Luna vai em busca do pai e adentra no habitat natural das lendas: a natureza.
Deixando para trás o Rio de Janeiro, agora somos levados ao Pará,onde é o epicentro de todos os eventos que permeiam os novos episódios. Não apenas trazendo um novo cenário, que abraça de vez a origem das lendas e suas respectivas narrativas, a série coloca o dedo nas feridas sociais brasileiras e evoca assuntos como garimpo, violência doméstica, pobreza e corrupção.
A aura misteriosa e fantástica se faz presente a todo momento. Se uma lenda não está em tela, alguma ação proveniente dela está ali e você consegue identificar. Seja através de uma simples pena de coruja ou de um pescoço marcado, a forma como Cidade Invisível trata a crença popular agora é orgânica, singular e mostra que nem tudo que é diferente é uma maldição.
O maior acerto da produção foi abraçar a origem das lendas e trazer para tela absolutamente toda a homogeneidade que existe entre tais histórias. Apenas três episódios já foram o suficiente para encarar lendas nacionais, não apenas do Norte e Nordeste, mas também uma lenda pouco conhecida do Sul do Brasil.
Essa mescla de cores, formas, dons e forças é o eixo principal que mostra a beleza que há na miscigenação do nosso país e como é possível falar sobre nossa cultura, crenças, e costumes sem precisar mudar o que de fato somos e de onde viemos. As cenas nas quais os povos indígenas estão livres para falar na sua própria língua, sem restrição, é a prova viva de como precisamos voltar às origens e proteger para perpetuar quem de fato nós somos!
A potente presença de atores do Norte e Nordeste do Brasil outorga isso e confesso que, como bom caruaruense que sou, meu coração quase parou de alegria ao ver um artista da minha cidade tendo um papel de destaque e que, aparentemente, vai fazer toda a diferença durante a temporada. A riqueza que existe no diferente se faz presente nos três primeiros episódios da nova temporada, mas certamente continuará reverberando ao longo da série.
Cidade Invisível volta para seu segundo ano muito mais madura e com uma jornada que pode se assemelhar a muito do que já vimos em outras produções. A singularidade aqui é que abraçar a diferença nunca foi tão benéfico e construtivo, afinal, a série parece entender que é “o diferente que vai mudar o mundo”.
Nota: 8.83
Gostei, acho que concordo contigo em geral.
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