Escrito por: Leonardo Markana
Baseada na obra original de Taylor Jenkins Reid, Daisy Jones & The Six não entrega uma história inovadora ao contar sobre a ascensão e queda de uma famosa banda fictícia dos anos 70, já que Reid admite ter se inspirado na banda Fleetwood Mac, especificamente na intensa e tortuosa relação entre Lindsey Buckingham e Stevie Nicks, os vocalistas da banda. Contudo, é uma história que consegue possuir uma certa personalidade original.
Como fã do livro e da escrita de Reid, a série é uma adaptação que entrega muitos altos e baixos. Toda adaptação sempre irá passar por mudanças, afinal, o próprio nome já sugere isso, mas nem sempre uma produção consegue captar a essência do que faz a mídia original ser aclamada ao traduzi-la para o audiovisual.
Dito isso, Daisy Jones & The Six entrega personagens cativantes e que sabem conquistar o público devido à competência de seu elenco: Camila Morrone se destaca com facilidade ao interpretar a maravilhosa Camila Dunne, entregando com maestria todas as nuances que a personagem sempre mostrou possuir; Riley Keough entrega para o público uma complexa porém carismática Daisy Jones, o que pode não agradar todo mundo que aguardava esta adaptação, mas que em nenhum momento apaga ou diminui a essência do que foi uma das mais importantes personagens dessa história.
Sam Claflin também apresenta uma performance muito boa como Billy Dunne, mostrando que conseguiu entender o que o personagem exigia para a narrativa audiovisual. Outro ótimo acerto para a adaptação foi dar mais espaço para Simone, interpretada pela ótima e brasileira Nabiyah Be, que soube trabalhar com a personagem de maneira eficiente não só por sua atuação, mas pela competência do roteiro ao desenvolvê-la para além da melhor amiga de Daisy Jones.
Mas como nem tudo são flores, Daisy Jones em muitos momentos parece não querer abraçar o caos que foi a década de 1970, principalmente ao falarmos de uma época fortemente marcada por sexo, drogas e rock ‘n roll. Para uma banda que se torna extremamente famosa dentro desses termos, a produção parece querer se polir em muitos momentos que pediam por mais caos e ousadia, especialmente pelo fato de seus personagens serem bastante complexos e caóticos dentro desse universo e contexto musical.
A produção também falha ao mudar acontecimentos de muita importância para o enredo em prol de uma narrativa mais “cinemática”, excluindo dinâmicas e diálogos importantes entre determinados personagens que definem com bastante firmeza o rumo que a história toma até chegar ao seu fim. Em contrapartida, muitas alterações também fazem com que diferentes direções sejam tomadas durante a trajetória narrativa, o que pode acabar surpreendendo até mesmo parte do público que leu o livro. Como leitor, me surpreendi bastante com certas decisões.
Daisy Jones & The Six pode ser considerada uma boa adaptação, mesmo que tenha possuído um aparente receio de ousar mais. Ela não acerta com os fãs que ansiosamente aguardavam pela adaptação, mas fica muito longe de falhar com esse público. Para os mais desapegados, é uma série que consegue cativar, mesmo que os primeiros episódios demorem para fazer a narrativa engatar.
Porém, algo que posso declarar como grande trunfo da série foi a criação de músicas originais, produzidas pelo produtor e compositor Blake Mills, juntamente com as colaborações de artistas como Marcus Mumford, da banda Mumford & Sons, e Phoebe Bridgers. Por mais que se trate de uma banda de rock fictícia, Mills se encarregou de escrever as letras do Aurora e de produzir as músicas de maneira que funcionasse para a série, já que no livro as músicas também existem, porém, tal fator nunca foi garantia de que seriam executadas e escutadas na adaptação de maneira igual. No fim de tudo, Daisy Jones pode não ser a adaptação perfeita, mas entrega bastante qualidade naquilo que mais importa em sua essência: a música.
Nota: 8.5