Escrito por: Amanda Kassis
Os sons de tiros se misturando às máquinas de costura, os tecidos escarlates fazendo alusão ao sangue derramado... A nova série antológica da Apple TV+ estabelece o tom da sua produção desde a abertura. Esta não é apenas uma obra sobre os jogos de poder dentro da alta costura, mas retrata como figuras ilustres — incluindo Coco Chanel, Pierre Balmain, Cristóbal Balenciaga e, claro, Christian Dior — reviveram a paixão da sociedade pela moda e pelos prazeres da vida após vivenciarem os horrores da Segunda Guerra Mundial.
É imprescindível destacar que todos esses nomes responsáveis por construir a era de ouro da alta costura colaboraram, de uma forma ou de outra, com o regime nazista durante a ocupação de Paris. Entretanto, a série deixa claro que não tem a intenção de condenar os personagens pelos seus atos, mas de mostrar a complexidade vivida por eles durante o período e o que fizeram para sobreviver.
Intercalando entre 1943 e 1955 na capital mundial da moda, acompanhamos as diferentes realidades dos personagens. Dior (Ben Mendelsohn) começa como um tímido e anônimo designer trabalhando para o ateliê de Lucien Lelong (John Malkovich), aceitando criar trajes para as esposas dos soldados do alto escalão nazista, pois necessitava sustentar sua família, incluindo sua irmã Catherine (Maisie Williams) — uma condecorada heroína da resistência francesa.
Do outro lado, vemos Coco Chanel (Juliette Binoche), eleita a vilã da trama, que inicialmente se recusou a trabalhar para os nazistas, mas, ao precisar resgatar seu sobrinho que havia sido feito prisioneiro, ela acaba se envolvendo com o inimigo. De fato, a rainha da alta costura foi uma espiã nazista devido à sua relação com Winston Churchill, ex-primeiro-ministro do Reino Unido, e é brilhantemente interpretada por Binoche, que mostra as diversas faces de uma mulher poderosa e, ao mesmo tempo, sem poder algum.
Em meio aos cenários extravagantes de Paris que são manchados pela bandeira nazista e aos belos trajes produzidos por figuras eternizadas da moda, a audiência assiste ao desenrolar dessa produção cinematográfica com um olhar diferente. A visão de Todd A. Kessler — criador, roteirista e também diretor dos dois primeiros episódios — coloca os horrores do período não como um personagem principal, por assim dizer, mas um antagonista que tenta disputar tempo de tela com as belas criações de Dior, além dos conflitos morais e familiares vividos pelo protagonista ao longo de sua jornada. Ou seja, não é apenas mais uma produção que retrata esse gênero francamente ultrapassado sobre a Segunda Guerra Mundial. Na verdade, ultrapassado é o último adjetivo que poderia ser escolhido para referir-se a uma obra protagonizada pelos maiores nomes da alta costura.
'The New Look' — homônima à primeira coleção de Dior, em 1947, que destacava a opulência do corpo feminino — acaba de estrear e já mostra para que veio. Levando em conta seu elenco de peso, alta qualidade técnica, excelência nos figurinos e no design de produção, essa série será uma das queridinhas das premiações. Agora, se ela será capaz de transformar indicações em vitórias durante um ano repleto de novidades que estavam atrasadas devido às greves de Hollywood… Bom, essa é uma outra história.
Para quem quiser saber mais sobre o período mais conturbado e sombrio da humanidade sob a perspectiva da alta costura, 3 dos 10 episódios estão disponíveis na Apple TV+. O restante será lançado semanalmente, às quartas-feiras, e a produção já está renovada para a 2ª temporada.
Nota: 7.5