Escrito por: Pedro Rubens
Provavelmente, em algum momento da vida, todos nós já lemos algo que nos fez adentrar as páginas da literatura e visualizar, quase que ao vivo, o que estava sendo lido. Isso poderia acontecer nos livros de História, enquanto estávamos na sala de aula, ou em casa, sentado na cama, enquanto líamos uma obra ficcional. Mas e quando uma série nos permite entrar em contato com o universo literário e assistir, com nossos próprios olhos, um espetáculo que saiu diretamente dos livros da História Oriental?
A convite do Star assistimos com antecedência os dois primeiros episódios de ‘Shogun’, ou ‘Xógun: A Gloriosa Saga do Japão’, como ficou a partir da tradução brasileira, que é uma história ambientada no Japão feudal. A série nos apresenta a colisão entre dois homens ambiciosos, de mundos diferentes, uma misteriosa samurai e debruça o espectador em uma narrativa ambiciosa sobre conquista, fé e vida.
Ambição talvez ainda não seja o melhor adjetivo para caracterizar tal produção. Antes de qualquer coisa: esqueça todos os trailers que você tenha visto. A nova produção do Hulu vai além de tudo o que apresentou em prévias e, em apenas dois episódios, já mostra que todas as cenas apresentadas anteriormente eram apenas 0,1% da grandiosidade que estava por vir.
O que parece ser uma história feudal vai sendo conduzido por uma narrativa que envolve catolicismo, protestantismo, colonização de países europeus, viagens marítimas, piratas, samurais e a rica cultura japonesa. Se logo nos primeiros minutos Shogun aparenta seguir sob a perspectiva de John Blackthorne, um “missionário protestante”, não dura muito até o Japão tomar as rédeas e liderar o enredo de tal forma que nada, ninguém ou nenhum outro núcleo parece ser capaz de preencher a tela.
Tudo se volta para uma reunião de 5 líderes de clãs que, a partir de uma traição, precisam seguir adiante com suas famílias e tribos, entregando assim uma progressão narrativa avassaladora. É assim que a série nos prende e propicia a incapacidade de fugir daquele ambiente…
Se o naufrágio está para acontecer, você se sente parte da embarcação. Se for necessário salvar alguém que caiu de um penhasco, nós estamos ali amarrando uma corda na cintura e descendo em busca do socorro.
‘Shogun’ emerge em meio às tantas séries que narram eventos históricos de qualquer maneira e nos mostra que sim, é possível produzir algo fiel, épico e sem ser arrastado, maçante. Pelo contrário! Até nos momentos de articulação política e religiosa, os diálogos são tão bem construídos que exercem a sua real função: são peças de um quebra-cabeça maior, que precisa ser milimetricamente respeitado e observado para a composição final.
Associado a isso, há uma ambientação de cair o queixo — e não estou usando metáforas aqui! A riqueza de detalhes se encontra em tudo: vestimentas, decorações, adereços, ornamentos, arquitetura, armamento e até nas paisagens naturais quando são apresentadas a flora e o horizonte japonês. À medida que esses elementos são apresentados, a série se aprofunda cada vez mais no que se propõe e cria uma atmosfera que beira a perfeição.
Mas de nada adiantaria uma produção grandiosa se não houvesse direção e atuação bem alocados em seus respectivos papéis. E adivinha só? Aqui nós temos tudo isso!
‘Shogun’ nos leva aos mais profundos livros da cultura oriental, prometendo ao espectador um arco épico, que nos levará a uma viagem rica em detalhes, pouco falada, mas que agora ganhará uma adaptação à altura. É sempre muito bom embarcar pelos mares da História e poder conhecer, com tanto cuidado, um pouco mais do que os livros nos contam.
Nota: 9,25