Escrita por: Amanda Kassis
Este texto não possui spoilers sobre os momentos-chave da primeira metade da temporada.
O BDS News foi convidado a assistir aos 4 primeiros episódios da 2ª temporada de 'House of the Dragon', uma série original HBO, baseada no livro 'Fogo & Sangue' por George R. R. Martin.
É hora de retornar a Westeros e preparar o campo de batalha pelo Trono de Ferro. A nova temporada de 'House of the Dragon' promete 8 episódios repletos de jogos políticos, traições, muito derramamento de sangue e, de fato, a aguardada Dança dos Dragões. Em seu novo ano, será que a série corrigirá os seus erros? Seria a expectativa maior do que a adaptação pode entregar ou estamos diante de uma das maiores produções televisivas da atualidade?
A série retoma a narrativa praticamente de onde parou. Os primeiros minutos de 'Um Filho por um Filho' se passam no Norte da Dádiva, onde o príncipe Jacaerys (Harry Collett), ainda sem saber do assassinato de seu irmão Lucerys (Elliott Grinhault), busca o apoio da Casa Stark, sendo introduzido por uma narração de Cregan Stark (Tom Taylor) que profere a famosa frase "winter is coming". A breve aparição do Lorde de Winterfell não dá somente o tom ao episódio, mas a toda essa temporada, que apresenta uma magnitude cinematográfica equivalente ao seu orçamento invejável.
Os Sete Reinos são o grande tabuleiro de xadrez disputado pelos Targaryens e os Hightowers e, se a 1ª temporada serviu para a audiência conhecer as principais peças e suas motivações, essa nova fase é muito mais sobre as jogadas que não podem ser vistas do que aquelas que estão às claras. É necessário paciência enquanto os personagens formam sub-alianças que, consequentemente, geram desconfianças e rachaduras em suas Casas.
Afinal, como em qualquer conflito no mundo real ou fictício, nenhuma guerra se materializa no ar da noite para o dia, pois há muitas movimentações nos bastidores. Os três episódios iniciais apostam em uma das mais marcantes características do universo de 'Game of Thrones': os extensos diálogos interpretados com maestria por um elenco de alto nível. O recurso é amplamente utilizado enquanto o Pequeno Conselho dos Verdes e o Conselho Preto se reúnem dia após dia em busca de aliados e, claro, procuram por brechas para conquistar mais poder entre eles.
Isso não quer dizer que não haja grandes momentos de ação. No fim da primeira hora, 'House of the Dragon' aposta em um chocante nível de brutalidade que poucas vezes foi visto no entretenimento televisivo. O momento é um reflexo direto dos eventos do fim da temporada anterior e a gota d'água que torna inevitável um futuro sangrento. De forma geral, a série se abstém de cenas de violência gratuita, usando o artifício durante situações de pesada carga emocional, o que é conflitante para a audiência que anseia por sangue, mas encontra dificuldades em digerir as consequências.
Como esperado da natureza humana, a emoção é o que rege a maioria dos personagens, até aqueles que acreditam estar mais perto dos deuses do que dos homens, como é o caso dos Targaryen. De um lado, temos um usurpador bêbado, Aegon (Tom Glynn-Carney), que não faz a menor ideia do que significa ser rei, e as suas poucas decisões costumam ser desvantajosas para os Verdes e até para eles mesmos. Ele pode até não saber o que está fazendo, porém o mesmo não pode ser dito de seu intérprete, Carney, que brilha a cada novo descontrole de Aegon e rende algumas das melhores performances até aqui.
Do outro lado, vemos a herdeira legítima Rhaenyra (Emma D'Arcy) que prioriza a cautela até o último momento possível em busca da paz. Ela tem todos os motivos para ceder ao luto e a raiva de perder seu pequeno Lucerys, mas também mostra todas as razões pelas quais Viserys (Paddy Considine) nunca mudou de ideia a respeito de quem deveria herdar o legado Targaryen. Ela está centrada, disposta a aprender com seus conselheiros – sem deixar que a manipulem – e sendo guiada pelo seu dever com o povo.
Aliás, a sede de poder dos homens versus a inteligência emocional feminina é uma das grandes pautas da temporada. Por exemplo, Alicent, mesmo tendo governado por anos no lugar de seu marido doente, acaba não tendo conhecimento de muitos planos tramados embaixo do próprio nariz. Desde a devoção inabalável de Sir Cole (Fabien Frankel) pela Coroa, a inveja de Aemond (Ewan Mitchell) e até os chiliques de Aegon, a principal figura dos Verdes deve lutar para não ser ocultada pelos homens ao seu redor e também tentar impedir a perda de tantas vidas inocentes.
Nesse ponto, a Rainha Viúva é muito parecida com sua antiga amiga de infância. Rhaenyra está sujeita aos planos sórdidos de seu imprevisível marido (Matt Smith), às tentativas de traição do Conselho Preto e aos atos de rebeldia de seu herdeiro Jacaerys. No fim, ela acaba encontrando apoio em outras figuras femininas da narrativa, sendo uma delas inesperada, mas bem-vinda.
Claro que a série ainda apresenta erros, velhos hábitos da 1ª temporada, principalmente de ritmo. Em alguns momentos, a produção parece não saber balancear a calmaria e as sequências de ação. O episódio 2 acaba caindo praticamente no esquecimento por esse motivo, sendo ofuscado pelo brilho do episódio anterior, e essa sensação se arrasta ainda por uma boa parte do episódio seguinte. Veja bem, o conteúdo não é de forma alguma ruim, mas não chega ao nível que ‘House of the Dragon’ já mostrou possuir em momentos recentes.
Talvez esse seja o fardo de conseguir executar cenas tão épicas – a audiência sempre clamará por mais. A boa notícia é que tudo e todos estão em seus devidos lugares no episódio 4, intitulado ‘A Dance of Dragons’, e – como o próprio nome sugere – é o aguardado resultado de tudo o que foi mostrado e planejado até aqui. Felizmente, cada minuto de espera valeu a pena.
Os novos episódios são um testamento de que 'House of the Dragon' sabe onde quer chegar, mesmo que tropece. Nos momentos em que alcança o patamar desejado, a audiência fica diante de uma produção com características singulares que têm a capacidade de honrar o legado do material original. Fazendo uso de uma bela fotografia, dragões hiperrealistas e performances que elevam o texto, a Dança dos Dragões está em andamento e, sem dúvida, em boas mãos.
Quer acompanhar a 2ª temporada? Semanalmente, aos domingos às 22h, um novo episódio é exibido no canal HBO e simultaneamente disponibilizado na Max. Antes mesmo da estreia, 'House of Dragon' já está renovada para a 3ª temporada.
Gostou do texto? Logo após a exibição ao vivo de cada episódio citado, o BDS News disponibilizará uma review com spoilers no Banco de Séries. Fique de olho!
Nota: 9.0