Escrita por: Amanda Kassis
Este texto possui spoilers sobre os principais momentos do episódio e sobre a obra original.
O BDS News foi convidado a assistir ao 4º episódio da 2ª temporada de 'House of the Dragon', uma série original HBO, baseada no livro 'Fogo & Sangue' por George R. R. Martin.
Para marcar a metade da temporada, a série entrega o seu melhor episódio e uma batalha digna de ser chamada de Dança dos Dragões. Porém, para chegar lá, é preciso atravessar mais alguns momentos políticos com consequências devastadoras para ambos os lados.
O episódio abre com uma nova participação de Milly Alcock, intérprete da versão jovem de Rhaenyra. Desta vez, ela está sentada no Trono de Ferro e volta a assombrar Daemon (Matt Smith) com as verdades enterradas no subconsciente dele. Atormentado por sentimentos de inveja e culpa relacionados à esposa e ao relacionamento com seu falecido irmão (Paddy Considine), o personagem sofre de apagões. Diga-se de passagem, é um momento infortúnio para o maior guerreiro dos Pretos estar perdendo a noção do tempo.
Enquanto os Pretos buscam por aliados, os Verdes aterrorizam as Riverlands e, agora, o exército liderado por Sir Cole (Fabien Frankel) está com o triplo do tamanho. Ele recebe o apelido de Fazedor de Reis pelo chefe da Casa Darklyn, que foi decapitado por traição. O apelido faz jus às atitudes de Cole que, horas após a morte de Viserys, ajudou a colocar um usurpador no trono, indo contra aos desejos do rei a quem jurou lealdade.
Com tantos soldados a seu dispor, o ego de Aegon (Tom Glynn-Carney) volta a controlar as suas ações. Reunido com o Pequeno Conselho, ele e Aemond (Ewan Mitchell) discordam do plano. Ao mostrar-se mais preparado para liderar a guerra civil, o príncipe assumiu a frente de diversas decisões junto ao Cole, deixando o irmão de escanteio. Ele escancara que Aegon permite-se levar por coisas supérfluas – como conquistar as grande ruínas de Harrenhal – ao invés de focar no que importa. Aqui, ocorre a decisão que banhará o episódio com ainda mais sangue: cortar o acesso por terra à Pedra do Dragão a partir da conquista do Pouso de Gralhas, enquanto Daemon ainda está distraído.
Voltando a falar no marido de Rhaenyra, o seu plot traz de volta mais dois personagens conhecidos da 1ª temporada. Primeiro, surge uma versão mais velha de Willem Blackwood, que havia tentado conquistar a mão da então princesa. No presente, oferece seu exército desde que usem os dragões para exterminar os seus inimigos de longa-data, a Casa Brecken. Em segundo, mas não menos importante, vemos a falecida Laena Velaryon, em uma participação especial de Nanna Blondell, que volta a assombrar a mente de Daemon.
Uma última vez antes do clímax do episódio, o foco retorna à Fortaleza Vermelha, sob o olhar de Alicent (Olivia Cooke). Ainda impactada pelo reencontro com sua amiga de infância, ela havia perguntado ao Grand Master (Kurt Egyiawan) se o homem acreditava que Viserys almejava que Aegon ascendesse ao trono. A matriarca se mostra cada vez mais frustrada com o comportamento do filho, que falha na simples tarefa de ser a face dos Verdes.
De fato, o usurpador verbalizou várias vezes a sua insatisfação com a ideia de herdar o Trono. Guiado pelo desejo de vingança pela morte do filho e cego pelo poder da coroa do Conquistador, Aegon sempre se mostrou incompetente. Aliando-se a Larys Strong (Matthew Needham), exilando o experiente avô (Rhys Ifans) e, agora, enxergando a Dança como algo que deve gerar entretenimento, ele encontra-se entediado.
Isso leva a uma lição de moral de sua mãe, que explica que ser rei não o torna sábio e que deveria aprender com aqueles à sua volta no Conselho: “você não faz ideia dos sacrifícios que foram feitos para te colocar no trono”. Quando questiona o que deve fazer, Alicent explica que se espera apenas uma coisa dele, absolutamente nada.
Nos minutos finais, vemos o exército de Cole em Pouso de Gralhas. A pequena fortaleza que poderia ser facilmente esquecida pela história, torna-se palco de um dos confrontos mais marcantes entre os Verdes e os Pretos. Após retornar de Pouso Real e sabendo que não há mais chance de paz, Rhaenyra (Emma D'Arcy) declara que “houve quem tenha confundido meu cuidado com fraqueza, deixe que isso os destrua”. Finalmente, ela está pronta para mostrar o poder avassalador de seus dragões, enviando Rhaenys (Eve Best) e Meleys, a Rainha Vermelha, ao confronto.
Em uma decisão poética dos roteiristas, a verdadeira Dança dos Dragões começa narrada pela protagonista que revela ao filho, Jacaerys (Harry Collett), a Canção de Gelo e Fogo – a história premonitória que desencadeia todos esses eventos. Para a rainha legítima, enviar dragões para batalha e permitir tal brutalidade só é possível por crer no sonho que é passado de rei para herdeiro por gerações de Targaryens.
As cenas que se seguem são o resultado não somente da narrativa traçada por 14 episódios em duas temporadas, mas de todo o trabalho da saga original que permeou o caminho para ambiciosas produções de fantasia. Em uma das maiores sequências de ação já produzidas no universo de 'Game of Thrones', a série consolida sua posição como uma das principais produções da década, misturando sangue, fogo e sacrifício para criar uma verdadeira dança nos céus. A incomparável Dança dos Dragões.
A aparição de Aegon montado em Sunfyre mostra-se como uma oportunidade imperdível para seu irmão mais novo. Aemond – que originalmente era a arma surpresa do exército dos Verdes – não vê somente a chance de ter o trono que sempre quis, mas de vingar-se das humilhações de uma vida toda. O trabalho de humanização do personagem dá uma nova luz àquele que é descrito como o grande vilão da trama: atormentado pela família, mutilado pelo sobrinho e à sombra de alguém que não era digno do Trono de Ferro. Portanto, não há surpresa alguma quando, ao ver Sunfyre e Meleys engalfinhados no céu, Aemond comanda o ataque com o fogo de dragão, propositalmente atingindo Aegon.
Esse episódio também marca o fechar das cortinas para uma das personagens mais queridas pelo público, Rhaenys. Mesmo tendo uma oportunidade de escapar e com seu dragão ferido, a Rainha Que Nunca Foi retorna ao campo de batalha para tentar levar o maior dragão junto, Vhagar. Conformada que não sairia viva dali, a princesa se sacrificou, mas morreu sem cumprir seu objetivo. Ao contrário do livro, ela não foi queimada, caindo para a sua morte junto com Meleys.
Finalmente, a poeira baixa e a destruição ocasionada pelos três dragões é mostrada pelo ponto de vista de Sir Cole que sobreviveu aos ferimentos. Ao chegar no local onde Aegon e Sunfyre estão caídos, ele acaba impedindo que Aemond termine aquilo que começou. É com a aparição dos créditos que a realização recai sobre a audiência: entre grandes perdas e incapacitações para ambos os lados, o único vencedor da batalha é Aemond, o Assassino de Parentes.
Como montador do único dragão que aparenta estar disponível, já que a aparição de Helaena (Phia Saban) com Dreamfyre é improvável devido ao Sangue e Queijo, ele está diante da posição de príncipe regente. Essa é uma construção que vem sendo feita desde os episódios finais da temporada anterior e os holofotes sobre o personagem de Mitchell devem trazer novas dinâmicas para os Verdes. Já para o lado dos Pretos, resta lidarem com mais uma morte dolorosa tão pouco tempo após o fim de Lucerys (Elliot Grihault).
Sem dúvida, esse episódio está fadado a causar turbulências. Mesmo sendo excepcionalmente bem executado, uma parcela da audiência deve seguir o movimento observado previamente de fazer comparações incabíveis com o material original. Mais uma vez, é necessário falar sobre o entendimento por trás do termo 'adaptação': nem tudo o que funciona na literatura pode ser copiado para a TV.
'House of the Dragon' é sua própria história. Os roteiristas possuem total liberdade de realizar mudanças artísticas – por sinal, recentemente elogiadas por George R. R. Martin, que atua como produtor e consultor da série. Os eventos relatados em 'Fogo & Sangue' também têm uma característica especial que torna as mudanças ainda mais válidas. Ao contrário de outras obras do autor, essa é uma 'história imaginária' narrada pelo Arquimeistre Gyldayn da Cidadela, baseado em relatos sobre os Targaryens, desde o Conquistador até Aegon III. Portanto, nada mais é do que um disse-me-disse ou uma fofoca.
Diante da entrega de um material de alta qualidade e uma longa jornada que ainda deve ser trilhada, é necessário desprender-se das expectativas e vivenciar 'House of the Dragon' como algo individual e, principalmente, como uma simples fonte de entretenimento. Essa não é a última vez que o texto tomará rumos divergentes do livro e, honestamente, isso não é uma má notícia.
Quer acompanhar a 2ª temporada? Semanalmente, aos domingos às 22h, um novo episódio é exibido no canal HBO e simultaneamente disponibilizado na Max. A temporada contará com 8 episódios.
Nota: 9.5