Escrita por: Amanda Kassis
Este texto possui spoilers sobre os principais momentos do episódio.
'House of the Dragon’ abre a segunda metade da temporada com um episódio dedicado às consequências da primeira Dança dos Dragões, principalmente pela remoção de duas peças cruciais do tabuleiro, desencadeando novos jogos de poder enquanto os personagens lidam com o luto.
Como parte de uma propaganda política, o exército dos Verdes – comandado por Sir Cole (Fabien Frankel) – exibe a cabeça decapitada do dragão Meleys pelas ruas de Porto Real. O que deveria ser um prêmio de guerra para demonstrar força e relembrar o que acontece com traidores, acaba sendo visto como mau presságio pelos súditos, transformando em carne e osso as criaturas responsáveis por garantir a soberania dos Targaryen. Os dragões deixam de ser figuras divinas e invencíveis para se tornarem tão mortais quanto os ratos que permeiam as ruas da capital.
Dentro da Fortaleza Vermelha, uma aura pesada recai sobre o lugar enquanto a vida de Aegon (Tom Glynn-Carney) está por um fio, após a traição de seu irmão no episódio anterior. Está claro que Alicent (Olivia Cooke) sabe do efeito dominó que causou, não somente levando a uma guerra civil, mas aos conflitos internos entre os próprios filhos. E tais consequências a infligem diretamente à medida que o episódio avança.
Já em Pedra do Dragão, Rhaenyra (Emma D’Arcy) não é vista como uma líder. Independente da forma como se apresenta ao Conselho Preto, a visão deles é limitada pela perspectiva machista da sociedade, que sempre a verá como o sexo frágil que não possui lugar em um campo de batalha. Ao dizer que “sempre houve paz no nosso tempo, você não viu mais batalhas do que eu”, a protagonista não somente resume a situação dela e, mais tarde, de Alicent, mas a mensagem que o episódio busca transmitir como um todo.
Enquanto o Conselho se mostra dividido sobre qual caminho seguir neste momento crucial, Jace (Harry Collett) está cansado de ficar parado. Ele vê na Casa Frey, controladora da travessia nas Gêmeas, a possibilidade de adquirir uma vantagem, sendo uma rota direta para as Riverlands – a peça-chave da guerra. Por um momento, parece que os Pretos ganharam fôlego. Daemon (Matt Smith) aparenta ter escapado dos fantasmas de Harrenhal para tentar converter a lealdade dos Brackens, mas eles preferem o fogo do que a traição. Nesse ponto, a personalidade volátil do personagem – quem sempre leva tudo a ferro e, bom, fogo – combinado a sua instabilidade mental o leva a uma decisão que pode o colocar ainda mais distante de conseguir aliados. O rei consorte deveria ser um emissário da rainha e de seus ideais, mas prefere conquistar apoio aterrorizando inocentes.
No Ninho das Águias, ocorre a primeira aparição da Donzela do Vale, Lady Jeyne Arryn, interpretada por Amanda Collin. É lá que Rhaena (Phoebe Campbell) e os filhos mais jovens da rainha legítima buscam refúgio da guerra civil. Porém, a falta de um dragão adulto para protegê-los de um ataque aéreo os coloca em uma situação precária. Não fica claro se esse plot secundário terá maiores desenvolvimentos, já que a despedida dos Pretos ocorrida no episódio 3 parecia ser definitiva.
De volta a Pedra do Dragão, o vazio deixado por Rhaenys (Eve Best) se torna uma oportunidade de crescimento para Mysaria (Sonoya Mizuno) – uma das peças mais interessantes do tabuleiro. Como alguém que sabe navegar todas as camadas da sociedade e sendo capaz de fazer qualquer coisa para o próprio ganho, a personagem é a conselheira ideal para Rhaenyra: alguém que pode fazer tudo em parceria com a soberana em isolamento. Por isso, elas enviam Elinda (Jordon Stevens) a Pouso Real na tentativa de lutar essa guerra por outros meios, explorando a fragilidade e a dor do povo para benefício próprio. Afinal, há milhares de súditos nas sombras, ou seja, é uma versão medieval do movimento de dar 'poder ao povo'.
Enquanto isso, o maior guerreiro dos Pretos está sendo mal aproveitado em um plot que mais parece pertencer a um episódio de ‘Ratched’ (2020). Em uma alucinação, a escolha de insinuar um incesto entre Daemon e sua mãe, a princesa Alyssa (Emelime Lambert), não é apenas sem pé-nem-cabeça, como uma manobra para chocar o público, mas um desperdício de tempo tela em uma temporada já mais curta.
Aqui, fica o questionamento se os roteiristas não sabem o que fazer com o personagem ou se não conseguem manejar corretamente a linha do tempo da história, mantendo-o parado enquanto acontecimentos importantes se desenrolam em outros lugares. Já quando decidem incluí-lo na história, há uma disparidade em relação à temporada anterior, na qual Daemon mostrava-se devoto à sua esposa. Agora, por mais que ele não mostre intenções de se tornar um terceiro front na disputa pelo Trono, parece disposto a buscar o lugar que ainda acredita ser seu por direito e ver o quão longe pode chegar com isso.
Neste ponto da temporada, os Pretos e os Verdes vivem momentos distintos. Há espaço para os apoiadores de Rhaenyra buscarem alianças, pois há uma liderança clara – mesmo que a contragosto. Já os usurpadores perderam o rosto de sua propaganda política. É a extensão dos ferimentos de Aegon que leva à movimentação título do episódio: 'O Regente'. Quando o conselho discorda em nomear Alicent para liderá-los – o que não é surpresa, afinal, não poderiam responder à reivindicação se Rhaenyra colocando outra mulher no poder – Aemond (Ewan Mitchell) é eleito príncipe regente para garantir a estabilidade e se consolida como ponto central da trama dos Verdes. Ainda, por sentir-se traída e subjugada, a rainha viúva põe um ponto final em seu relacionamento com Cole.
“Eu verei Rhaenyra ascender ao Trono de Ferro, como Rhaenys desejava. Como a própria Rhaenys deveria.” Na melhor cena do episódio, Baela (Bethany Antonia) reencontra o avô, Corlys Velaryon (Steve Toussaint), para transmitir o convite de que Rhaenyra quer nomeá-lo ao cargo de Mão. Ali, o discurso da neta sobre quem sua avó era é a homenagem que fica para uma das mais queridas personagens da série e, também, serve para reforçar a mensagem do texto.
Em maior parte, ‘O Regente’ se mostra um episódio sólido marcado por recomeços, encaminhando a série para um dos plots mais aguardados da obra original. Sutilmente apresentados ao longo da temporada, os Sementes de Dragões, ou dragonseeds, não servem apenas para mostrar a perspectiva dos plebeus sobre a guerra, mas para dar uma vantagem a causa dos Pretos. Esses personagens são descendentes de valirianos, a maioria bastardos, que tentarão domar dragões atualmente sem montadores. Caso consigam, o êxito significaria uma tropa poderosa de criaturas que poderiam ser usadas para tomar a capital sem medo de Vhagar e, consequentemente, reivindicarem o Trono.
Finalmente, há quem confunda o quinto episódio como uma vitória do machismo tão presente na saga de 'Game of Thrones', mas um olhar mais aprofundado mostra que ele é um testemunho sobre a força feminina sob as condições às quais suas personagens são submetidas. Claro, Alicent sofreu as consequências das suas próprias ações, mas isso não anula a força mostrada por outras mulheres enquanto trilham pelas sombras. Com a temporada se aproximando do fim e tendo mostrado o que tem melhor no episódio anterior, será que a série ainda tem fôlego para elevar sua qualidade ou manterá o nível atual até o fim? E como a regência de Aemond mudará os rumos do conflito? Bom, resta aguardar.
Quer acompanhar a 2ª temporada? Semanalmente, aos domingos às 22h, um novo episódio é exibido no canal HBO e simultaneamente disponibilizado na Max. A temporada contará com 8 episódios.
Nota: 8.5