Escrito por: Pedro Rubens
Um dos maiores produtos audiovisuais nacionais exportado é, sem sombra de dúvida, a produção novelesca. Desde muito tempo que a qualidade da indústria nacional escalou no que diz respeito ao desenvolvimento de capítulos que contassem uma história com muitos núcleos, cenários, reviravoltas - indo do clássico ao inovador. É fato que o Brasil se destaca nesse âmbito e, agora, emerge no último nível de aproximação deste produto com o público: a primeira novela brasileira para o streaming Max.
Beleza Fatal, nova produção da Max, segue a história da jovem Sofia que, enquanto criança, viu sua mãe ser presa injustamente — e posteriormente assassinada — após aceitar assumir um crime que não cometeu como forma de proteger sua prima Lola, a verdadeira criminosa. Anos depois, agora jovem e utilizando-se de Júlia como nome, Sofia decide ir em busca de vingança pela sua mãe.
Quando um incêndio condena toda sua casa e deixa uma cicatriz no rosto de sua filha, Cléo (Vanessa Giácomo) se vê obrigada a pedir ajuda à Lola (Camila Pitanga), sua prima. Ao mudar-se para o Rio de Janeiro junto com sua filha Sofia (Melissa Sampaio), acreditando que ali seria um novo começo, ela aceita trabalhar como empregada doméstica na casa que lhe foi oferecida como abrigo.
Neste ponto, a narrativa passa a apresentar as individualidades de cada personagem e como numa espécie de histórias cruzadas, entrelaça destinos que — aparentemente — são opostos, mas encontram-se na trajetória. Os núcleos passam a se dividir entre famílias e contextos sociais distintos, porém, com um texto costurado miraculosamente bem, de tal forma que — até onde vimos — não deixa lacunas e tampouco “enrola” o público.
De um lado, Lola busca construir seu império da beleza, tentando conquistar espaço a partir do seu trabalho como recepcionista na clínica de estética de Rog (Marcelo Serrado). Por ser esposa de Rubem (Rei Black), um policial que não aceita entregar-se à corrupção da corporação, a dona da casa ainda precisa cuidar do filho, Gabriel (Noah Calixto Moi), e, assim, repassa seus afazeres para a prima e concede-lhe a “honra” de retribuir a hospedagem e alimentação que está lhe ofertando.
Por outro lado, Elvira (Giovanna Antonelli) e Lino (Augusto Madeira) são experts na arte de se desdobrar em prol de conseguir o pão de cada dia. Seja encarnando o personagem de fiscais sanitários para garantir a carne — dada como vencida — ou sendo a vidente que lê as cartas e aponta o futuro das clientes, os dois não medem esforços para suprir o básico para seus dois filhos: Alec (Raphael Raposo) e Rebecca (Fernanda Marques).
O cruzamento das histórias acontece quando a filha de Elvira decide ir até a clínica de Rog, ou Doutor Peitão — como é chamado. Seu objetivo é conquistar as sonhadas próteses e realizar uma lipo. O que, aparentemente, é algo inofensivo para a jovem, dita toda a sequência dos fatos: a cirurgia mal feita, em local sem equipamentos adequados, uma parada cardíaca e o descontrole médico.
As consequências são desastrosas. Enquanto Benjamin (Caio Blat), cirurgião plástico de uma importante família da área, se desespera e foge, Rog precisa lidar com o corpo da jovem. Em meio ao caos, sua secretária ajuda-o. Porém, ambos são registrados nas câmeras de segurança e as filmagens são localizadas por Rubens, o esposo de Lola. Quando o embate acontece, na animosidade aflorada com medo de ser denunciada à polícia, ela atira e mata seu cônjuge.
A sequência é o clássico já conhecido pelas novelas: Cléo, a prima/empregada, viu tudo e cede à pressão psicológica de Lola para assumir a autoria do crime. Sofia segue sendo "criada” pela agora viúva e obrigada a assumir os afazeres domésticos que sua mãe fazia. Ainda criança, Sofia foge das mãos de Lola e vai morar na rua, mas consegue uma forma de ajudar Elvira e Lino com informações sobre Rebecca. Desta forma, as histórias e núcleos da novela se ligam de uma vez por todas.
Entretanto, numa tentativa de fuga da cadeia, a mãe da mocinha é assassinada a mando da própria prima, dado que não aguentava mais guardar o segredo da sua inocência e iria contar para a polícia. Assim, Sofia é adotada pela família de Elvira e cresce cercada de amor, porém, nutrindo o desejo de vingança contra aqueles que tiraram a vida tanto da sua mãe quanto de Rebecca.
Ao mudar de fase, a novela entra no seu segundo bloco e avança alguns anos, mas trazendo os mesmos personagens em suas respectivas versões adultas. A protagonista, agora vivida por Camila Queiroz, entende que não há como fugir daquilo que sempre desejou: ela precisa vingar-se, mesmo que isso custe caro. Nesse ponto, talvez, o texto chegue ao seu ápice no que diz respeito à manutenção temática da novela e reforça os questionamentos levantados desde o início: o que é uma vingança e até onde é o seu limite?
Os capítulos que seguem retomam a narrativa vingativa de Sofia, que, desta vez, consegue se aproximar de Lola e vai trabalhar como social mídia da mesma. Seu império de beleza, já consolidado, é sucesso nacional e atrai os olhos de muitas pessoas. Essa é a porta de entrada para um plano de vingança que envolve novos e velhos rostos — a começar da protagonista, que submete-se a uma cirurgia plástica para remoção da cicatriz ocasionada pelo incêndio enquanto ainda era criança.
Aos poucos, a mocinha vai se mesclando e adentrando na família Argento, reencontrando Rog, Benjamin e conhecendo os demais que, até então, ainda não lhe eram familiares. Desta vez, a vingança de Sofia vai ganhando robustez, porém, o desenvolvimento da trama levanta pontos sociais e reflexivos dignos de uma grande novela brasileira.
Como se o questionar-se sobre vingança já não fosse o suficiente, ainda somos constrangidos a lidar com a sensação de que estamos numa avalanche, sendo levados juntos com a protagonista para algum lugar que ainda não conhecemos. Isso tudo é feito de forma maestral pelo texto do brilhante Raphael Montes que narra fatos fictícios com tanta veracidade, aproximando-os da realidade de tal ponto que leva o público a questionar se, de fato, aquilo não é a vida.
Afinal, é ou não?
Ao fim dos 10 primeiros capítulos de Beleza Fatal, o espectador se vê em um ponto que não há mais para onde correr: a gente quer mais. Até onde essa história nos levará, não sabemos. Porém, assim como Nilo canta em algumas de suas cenas, certamente poderemos também cantar:
“Eu sei
Que a vida devia ser bem melhor
E será”
Quem sabe a beleza da vida não seja encontrar aquilo que há de mais belo no viver, mesmo em meio às fatalidades da caminhada. Afinal, foram elas que nos trouxeram até aqui…
Nota: 8,75
![]() |
1
|
![]() ![]() ![]() |
![]() |
1
|
![]() ![]() ![]() |
![]() |
1
|
![]() ![]() ![]() |
![]() |
1
|
![]() ![]() ![]() |
![]() |
1
|
![]() ![]() ![]() |
![]() |
1
|
![]() ![]() ![]() |