Escrita por: Amanda Kassis
Este texto contém spoilers sobre o desfecho da temporada.
Após se tornar a 7ª série de língua inglesa mais assistida da história da Netflix, 'The Night Agent' ('O Agente Noturno', no Brasil) retorna com uma trama morna e introdutória, que entretém a audiência e prepara o terreno para a 3ª temporada.
Idealizada por Shawn Ryan e baseada na obra homônima de Matthew Quirk, essa produção conquistou o mundo por fazer algo simples e bem-feito, em um ritmo frenético e uma narrativa sempre focada em seus protagonistas Peter Sutherland (Gabriel Basso) e Rose Larkin (Luciane Buchanan) — uma dupla recheada de química, que vai além do romantismo. Agora, a nova leva de episódios reflete o sucesso da série, ocasionando em um orçamento maior e vasto elenco, expandindo o universo ficcional para além do porão da Casa Branca e seus arredores… O que é exatamente o problema. Em termos simples, a 1ª temporada era um bom prato de arroz e feijão, enquanto a 2ª é aquele caviar que todo mundo quer experimentar, mas descobre que não é tão delicioso assim.
Deve-se destacar que 'The Night Agent' permanece como uma ótima produção, ela entretém e, nesta temporada, desafia a audiência a prestar mais atenção aos detalhes, misturando diversos plots para revelar outra conspiração no alto escalão do governo americano e prometendo algo grandioso para o próximo ano. Porém, o roteiro carece de ritmo até atingir a reta final, e sua trama turva torna difícil entender onde quer chegar, confundindo, em vez de instigar, as pessoas.
A temporada abre com uma sequência de encher os olhos em Bangkok, na Tailândia, situada 10 meses após a tentativa de o assassinato da presidente dos EUA (Kari Matchett), quando vemos a primeira missão de Peter como um agente noturno dar errado. Por isso, ele desaparece por 1 mês e ressurge em Nova York, dedicado em terminar aquilo que começou para vingar a morte de sua companheira, a agente Alison — interpretada por Brittany Snow, em uma participação que merecia mais tempo de tela.
Como esperado, o protagonista não é o mesmo homem que salvou Rose em uma noite qualquer de trabalho, vigiando um telefone que nunca tocava, e muito menos quem chegou à Tailândia pronto para o trabalho de campo que sempre quis. O psicológico de Peter está abalado e, consequentemente, sua balança moral está desequilibrada. Assim como na temporada anterior, quem faz o trabalho de mantê-lo na linha é a personagem de Luciane Buchanan, que está reconstruindo sua carreira no mundo da tecnologia e larga tudo na Califórnia para encontrá-lo após uma ligação misteriosa. Ironicamente, ela também é o motivo pelo qual Peter toma decisões que podem colocá-lo atrás das grades pelo resto da vida. É o amor, não é?
A busca por um traidor da CIA que está vendendo inteligência ultrassecreta os coloca no caminho de Jacob (Louis Herthum), um corretor de informações que é o verdadeiro significado da frase "conhecimento é poder". Por sinal, vale adiantar que esse mediador, vendendo informações perigosas para quem der o maior lance, é quem vale realmente ficar de olho ao longo da temporada, o resto… O resto é só parte da jornada.
No meio do caminho, a história se entrelaça com alguns clientes de Jacob, tal como o embaixador do Irã nas Nações Unidas, Abbas Mansuri (Navid Negahban), que se torna a galinha dos ovos de ouro para Noor Taheri (Arienne Mandi) — uma jovem funcionária da embaixada — conseguir asilo político para ela e sua família, em troca de trair sua terra natal. A história dela rende o melhor episódio da temporada, intitulado 'Assunto de Família', quando ocorre a tentativa de resgatar sua mãe (Marjan Neshat) e seu irmão (Kiarash Armani) durante uma missão mal-planejada no Irã. Noor se torna um dos destaques por ser uma civil assumindo um papel de espiã para coletar informações que muitos agentes não seriam capazes de chegar perto. De certa forma, é um reflexo de quem Rose era no início da narrativa, o que corrobora para as duas criarem uma relação de confiança em meio ao caos.
Jacob também vende seus serviços para a família do ditador Viktor Bala (Dikran Tulaine), preso por usar uma arma química contra seu próprio povo. O plot twist? A arma KX foi fabricada e vendida pelos próprios americanos, o que acabou sendo encoberto por um membro do alto escalão das Nações Unidas. O ódio fomentado pela hipocrisia do Ocidente leva o sobrinho Markus (Michael Malarkey) e, eventualmente, Tomás (Rob Heaps) — o filho totalmente sem sal do ditador — a buscar vingança. O plano envolve expor o Projeto Foxglove, responsável por criar agentes químicos altamente perigosos como o KX, e a participação dos EUA no atentado.
Porém, o que está sendo exposto aqui em poucos parágrafos é o resultado de oito episódios de 45 minutos. É tempo demais. 'The Night Agent' gasta muito tempo apresentando esses plots antes de conectar tudo. Peter, Rose e o resto do FBI estão tão confusos quanto à audiência, o que torna difícil enxergar a história como um todo. Talvez, isso seja o reflexo de produções com temporadas cada vez mais curtas. A demora para a resolução não se encaixa mais no perfil da maioria dos espectadores e seria mais coeso em uma série de 13, 16 ou 22 episódios. Em apenas 10, acaba restando pouco tempo para solucionar tudo sem parecer corrido. E, sim, existe uma diferença entre ritmo frenético e soluções abruptas.
A 1ª temporada apostou nesse frenesi, mas sempre apresentando elementos novos, plot twists e um objetivo claro. Aqui, o clássico ataque terrorista com arma química para matar milhares de pessoas acaba sendo solucionado em 25 minutos, pois ainda é necessário gastar a segunda metade do episódio final para apresentar a proposta da temporada seguinte — a série havia conquistado uma renovação dupla em 2023 — e a situação dos personagens depois que a poeira baixou.
De um lado, temos Rose, que retornou à Califórnia com direito à uma promoção no emprego. Ela aparenta ter encontrado uma forma de seguir em frente após os acontecimentos que assombraram sua mente — acordada ou não — ao longo do último ano. Isso também significa deixar Peter ir, cumprindo o que lhe prometeu. Em uma confissão emocionante, o personagem de Basso havia deixado claro que ela sempre seria sua fraqueza e que Rose jamais estaria segura enquanto ele trabalhasse para o governo. Isso não foi devidamente uma surpresa, afinal, vimos Peter vender sua vida para Jacob em troca de salvar a protagonista.
Por outro lado, é difícil acreditar que essa será a última vez que veremos a especialista em segurança cibernética, pois a química entre os dois e o trabalho em equipe era a verdadeira joia da narrativa, algo que foi mal aproveitado nos novos episódios. Ao expandir o universo da série para apresentar tantos rostos, consequentemente, o tempo de tela dos dois foi prejudicado, mas seus poucos momentos juntos ainda trazem o mesmo encanto da 1ª temporada. Talvez, os roteiristas precisam perceber que menos é mais.
Mais uma vez, o protagonista cometeu uma série de crimes em nome de seu país — e de Rose. Só que isso aparenta não ser o suficiente para mofar em uma cela ou em buraco em uma instalação ultrassecreta pelo resto da vida, porque não haveria mais história a ser contada. Então, quando Catherine (Amanda Warren) — a melhor personagem inserida na nova temporada — o convida para um passeio, é que descobrimos verdadeiramente o porquê de toda essa enrolação.
Na verdade, o objetivo é o topo da Casa Branca. Anteriormente, a produção já havia apostado em seu vice-presidente (Christopher Shyer) como um traidor, o que poderia ser maior do que isso? Somente o futuro presidente da nação: o governador Hagan (Ward Horton), que nada mais é do que um fantoche de Jacob. No fim, as idas e vindas da temporada serviram como um grande capítulo introdutório para algo que, até o momento, parece bem promissor. E, claro, apenas Peter Sutherland poderá salvar o dia quando o telefone tocar novamente.
'The Night Agent' encerra seu segundo ano fazendo sucesso em números de audiência, mas tropeçando em sua própria glória. Ela entretém, entrega belos momentos de atuação e, inegavelmente, possui grandes sequências de ação, nas quais Gabriel Basso brilha por se propor a fazer tudo o que pode sem um dublê. Agora, espera-se que a série lembre-se de usar seu belo orçamento para continuar entregando grandes cenários, fotografia e elenco de alta qualidade, mas sem tentar ser algo inovador e sim um bom prato de arroz e feijão do clássico gênero da espionagem.
Quer assistir? A 2ª temporada completa já está disponível na Netflix.
Nota: 8,5
![]() |
1
|
![]() ![]() ![]() |
![]() |
1
|
![]() ![]() ![]() |