Esse texto possui spoilers sobre o novo episódio.
Escrito por: Pedro Rubens
Entre riffs de guitarra, Meat Loaf conta a história de um alguém que, como um morcego fora do Inferno, terá ido embora quando a manhã chegar. Essa música faz o contraponto do segundo episódio de Dope Thief, que soa como uma grande aventura de descoberta e mistério para chegar a um simples e intimista diálogo sobre a canção supracitada.
O fato é que a inquietação criada na aura de Bat out of Hell, segundo episódio da série da Apple TV+, coloca-se acima dos momentos de pseudo-calmaria. Seguindo as ações do piloto, Many e Ray precisam lidar com as consequências de um roubo que, conforme dito pelo próprio roteiro, “buscando um fio capilar achou uma artéria". A mesa está posta e agora tanto os protagonistas — e seus respectivos núcleos — quanto o espectador são inseridos em uma teia criminosa ligada diretamente ao coração da máfia.
Na tentativa de minimizar os danos da chacina que finaliza o primeiro episódio, a dupla de amigos não apenas queima o furgão que estavam, mas deixa dentro o corpo de Rick dentro. Aquele que outrora fora assassinado no assalto, agora torna-se apenas um corpo carbonizado.
Quando Ray sai da cena do crime, vai imediatamente à casa de Theresa (Kate Mulgrew) na tentativa de fazê-la sair dali e fugir para Atlantic City. Entre idas e vindas, propostas e refutações, a ida é confirmada e, finalmente, ao menos uma das personagens pode — talvez — respirar fundo por estar longe daquele caos.
Agora é a vez do próprio Ray seguir adiante e refugiar-se. Em contrapartida, aquilo que aparenta ser uma busca por conselho e uma saída do furacão demonstra ser apenas um afago para a alma de alguém que possui uma demanda interna: a necessidade de um lar e uma família. Nesse ponto, fica evidente que o protagonista não percebeu nem tampouco entendeu absolutamente nada daquele diálogo recheado de entrelinhas com Son (Dustin Nguyen) — inclusive confirmando que o corpo de Rick foi carbonizado — e sai com mais dúvidas e necessidades do que chegou.
Enquanto se dedicam a esconder o dinheiro e as drogas roubadas, Many e Ray reafirmam o laço existente entre eles. Embora não tenha sido um episódio recheado de cenas exclusivamente com os dois, ainda é evidente que essa conexão será a chave para tirá-los dessa enrascada. Independente de qual seja a saída…
Aqui surge o nome de Bart (Ving Rhames), um ex-namorado de Theresa, que ajudou na criação de Ray e foi um dos responsáveis por introduzi-lo ao mundo do crime. Ao passo que vai visitá-lo na prisão, recorda como aquele tratava sua mãe, levando-o a momentos de extrema violência. Isso ainda soa como um fantasma para Ray que, por inúmeras vezes, se vê assombrado por flashbacks do passado, mas nutre aquela figura horrenda na sua mente como uma forma de manter uma figura paterna próxima de si — ainda que a duras custas.
Porém, o clímax do episódio acontece quando a pessoa misteriosa volta a ligar para a dupla de ladrões e "convoca-os” para um novo ato dessa peça. Ao chegar no local determinado para cumprir o combinado, aquilo que foi solicitado aparentemente já havia sido concluído e o recado estava disposto diante deles: corpos e sangue, rodeados de moscas e clamando por um enterro.
Em meio a tiros e uma possível emboscada, Ray e Many conseguem se sobressair, mas não conseguem ir muito longe… Agora, passam a ser seguidos aonde quer que vão, com ameaças e ligações que descrevem exatamente o que eles fazem, quem conhecem e para onde vão.
Nesse ínterim, o detetive Mark Nader (Amir Arison) é apresentado e colocado como uma peça minimamente curiosa nesse tabuleiro. Por um lado, vemos sua ação no processo de investigação, levantando questionamentos e buscando respostas para solucionar o caso. Por outro lado, sua persona soa como alguém que esconde algo e que pode, talvez, estar escondendo alguma ligação com toda essa teia de crimes.
O capítulo termina com Ray buscando ajuda de Michelle Taylor (Nesta Cooper), uma advogada recomendada por Theresa. Entre idas e vindas, descobertas e desabafos, toda a narrativa caótica e pesada construída nos quase 55 minutos se esvai em uma metáfora associada ao nome da música de Meat Loaf — que também nomeia o segundo episódio.
Enquanto aplicamos a necessidade de fuga desse inferno que se instaurou na vida de Ray e Many, a dupla também precisa seguir o conselho dado por Son ao afirmar que “a vida é camaleônica". Porém, ao chegar nos minutos finais, resta a sensação de que essa aventura está apenas no nível raso, ainda há muita água pra rolar e muito o que se “camalear” pela frente.
Nota: 9,0