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Apesar da licença poética empregada na série, os fatos históricos de toda a operação para conter a radiação de Chernobyl vem sendo retratados de uma maneira bem fiel e isso me agrada muito. Eu tinha boas expectativas para essa minissérie e elas estão sendo facilmente superadas a cada episódio.
Que agonia ver os bombeiros naquele estado. Morte por contaminação por radiação é algo terrível e esse episódio retrata isso de uma forma muito real. Um indivíduo pode sofrer contaminação radioativa de duas formas: ao ter contato físico com um material contaminado ou ser irradiado por ondas/partículas de radiação dispersas no ar. Os bombeiros foram contaminados das duas formas e por isso definharam rapidamente. Além de eles serem irradiados diretamente na fonte (o reator explodido), tiveram que remover os blocos de grafites e outros destroços da explosão para chegar até o reator. Já os moradores de Pripyat e boa parte da Europa foram irradiados pela nuvem radioativa de Chernobyl.
Por conta do que comentei acima, fiquei agoniado ao ver a Lyudmilla teimando em ficar naquele hospital e tocando o marido contaminado, ainda mais depois da revelação de que ela estava grávida. Me dá calafrios só de pensar nas consequências de tudo isso para o bebê. Radiações (principalmente as de raio gama) tem o poder de alterar o nosso DNA e tais anomalias genéticas podem ser passadas de geração para geração. Apesar de todos os esforços na operação de descontaminação de Chernobyl, a população atingida pelos altos níveis de radiação sofreu e ainda sofre uma série de enfermidades. Além disso, os descendentes dos atingidos apresentam uma grande incidência de problemas congênitos e anomalias genéticas.
Mesmo passado mais de 30 anos do acidente, as consequências do mesmo são sentidas até hoje e provavelmente serão por muitas décadas antes do quadro apresentar uma melhora significativa. Uma grande parte do material radioativo liberado por Chernobyl já não representa uma ameaça tão grande, mas o perigo agora é representado pelo isótopo césio-137, que persiste por mais tempo no solo e também acaba sendo carregado pelo vento, o que contamina vegetações que são consumidas por vacas. Por conta disso, uma das problemáticas muito discutida atualmente é a do leite produzido com altos níveis de radiação na Ucrânia, com leituras de radioatividade 5 vezes maiores do que o limite imposto pelo governo para adultos e cerca de 15 para crianças. Se isso já é pavoroso, agora imagine como tudo teria sido infinitamente pior se a plataforma de concreto que comportava o reator tivesse cedido e contaminado o lençol freático abaixo dele.
Por falar em Césio-137, uma curiosidade: esse isótopo foi o responsável pelo maior acidente radioativo no Brasil. Um ano depois do acidente de Chernobyl, dois catadores de materiais recicláveis da cidade de Goiânia encontraram um aparelho de radioterapia numa clínica abandonada e levaram para casa com a finalidade de vendê-la para um ferro velho e faturar com a venda do metal e chumbo da máquina. Assim fizeram e no ferro velho, a máquina foi desmontada pelo proprietário que se "encantou" com uma cápsula que havia dentro dela. Nessa cápsula continha césio-137, um pó altamente radioativo e que apresenta luminosidade no escuro. Por conta disso, o material se tornou uma atração para a família dele e amigos. Porém, esse ato fez centenas de vítimas, todas contaminadas por radiações emitidas pelo césio-137. A primeira pessoa a morrer foi uma menina de 6 anos, que se tornou o "símbolo" da tragédia.
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