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E mais uma vez Chernobyl nos entregou um episódio muito realista e difícil de digerir. Não é à toa que a minissérie se tornou a mais bem avaliada da história do IMDB.
Nesse episódio, vimos Legasov falando sobre a radiação gama, enquanto a operação no telhado do reator 4 mostrou na prática o quão perigoso é esse tipo de radiação. Quando o núcleo de um elemento radioativo se desintegra, ele pode emitir 3 tipos de radiação ionizante que são: alfa, beta e gama, cada qual com suas particularidades.
Foi cometido um equívoco quando Legasov se referiu à radiação gama como sendo emitida em forma de partículas, pois ao contrário das radiações alfa e beta, a gama não é emitida nessa forma. Ela é na verdade uma onda eletromagnética com alto poder de penetração e é exatamente por isso que é perigosíssima, podendo atravessar todo o corpo humano, causando danos irreparáveis à nossa pele, órgãos internos, núcleos das nossas células e consequentemente, graves mutações genéticas. É por isso que os homens que tiveram o árduo trabalho de remover os blocos de grafite do telhado não podiam ser expostos tanto tempo ali.
Em termos de comparação, as partículas da radiação alfa apresentam um poder de penetração bem baixo e por conta disso, dificilmente elas conseguem atravessar uma folha de papel. Essas partículas são emitidas com alta energia, mas a perdem rapidamente quando atingem objetos no caminho delas. Por sua vez, as partículas da radiação beta tem um poder de penetração bem maior, de aproximadamente 50 a 100 vezes mais que as da radiação alfa. Dessa forma, ela atravessa matérias mais finas, podendo ser detidas por uma placa de chumbo de 2mm.
Gostei do embate entre as 3 personagens principais sobre como divulgar as informações de tudo o que aconteceu ali, sendo que praticamente tudo sobre aquele acidente foi tratado como segredo de estado. Esse assunto vai ser pauta do último episódio da série e com certeza vai dar muito o que falar e colocar as protagonistas em uma situação complicada. O orgulho e sentimento de superioridade da União Soviética colocou muitas vidas em situações extremas diante da forma que lidaram com as consequências do acidente de Chernobyl. Recentemente, vi um documentário chamado “Chernobyl and Fukushima - The Lesson” onde dizem que comunidades rurais inteiras viveram por muitos anos com um sentimento de abandono sem saberem exatamente as consequências da radiação sobre elas, suas terras e produtos que consumiam. Uma vila da Bielorrússia, por exemplo, foi receber informações à respeito e cuidados depois de 10 anos do acidente nuclear. Ou seja, durante aqueles anos todos, consumiram vegetações, águas e animais contaminados.
Por falar em animais, que dó dos bichinhos sendo abatidos por estarem contaminados. Durante muitos anos, não se teve muito registro da vida selvagem na zona de exclusão de Chernobyl. Porém, gradativamente os animais foram voltando para a região e hoje, sem a presença humana por ali, todo aquele território é habitado por cavalos selvagens, lobos, alces etc. Biólogos tem estudado este fenômeno de revitalização animal no local, mas praticamente desconhecem o real estado de saúde dos bichos. De certa forma, eles conseguiram se adaptar às altas doses de radiação que ainda se encontram por ali (principalmente nas florestas infestadas de césio-137), mas consequentemente, são altamente radioativos. A vida sempre encontra um meio, mesmo que em condições não favoráveis.
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