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Na cena da dança, o enquadramento destaca, ao fundo, um quadro com dois leões pintados. Em Dom Quixote, há uma passagem em que o "cavaleiro" confronta leões. Ele se depara com uma liteira (o meio de transporte das famílias reais) e questiona o "motorista" o que era aquilo, o que significa o desenho e o que ele transportava. Ele afirma que era uma liteira, o desenho era o brasão do rei e que transportava dois bravos leões enjaulados como presentes para o rei.
Quixote fica impressionado que os leões eram muito grandes e ouve do carreiro que nunca "passaram leões maiores, seja na Espanha ou na África". Então, o cavaleiro disse que não passavam de "leõezinhos" e que iria enfrentá-los. Ele pressiona tanto que o motorista decide abrir uma das jaulas, pedindo para todo mundo se afastar porque os leões só obedeciam a ele, e que qualquer prejuízo seria culpa do Quixote. Quando a jaula é aberta, o leão, extremamente faminto, olha para fora da jaula e simplesmente ignora Dom Quixote, o deixando ainda mais louco, e volta para dentro.
O leão "só cuida de sobreviver, comer e dormir entre as quatro paredes da jaula, caminhando não sabe como nem por quê pelos caminhos poeirentos da Mancha e da vida”. O leão esqueceu-se de viver e conformou-se com os limites da jaula. Representa uma comodidade. Algo banal. É necessário combater esse esquecimento, esse esquecimento de que estamos vivos. Nem que seja combatido com uma dose de loucura, como Dom Quixote.
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