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Caramba, estou sem palavras (mentira, tenho muitas, haha) para descrever o que foi esse episódio e essa produção como um todo. Desenvolveram em apenas 5 episódios o que muitas séries não conseguem fazer em várias temporadas: riqueza de detalhes, informações e fatos históricos e construção da história e das personagens. Essa minissérie é sem dúvida o material mais bem elaborado que eu já assisti sobre o acidente nuclear de Chernobyl e olha que eu já vi muitos. Acredito que a série conseguiu entreter até quem é leigo no assunto de radioatividade. Sei que o tema é complexo, mas a série foi bem cuidadosa na tentativa de situar o público de uma forma bastante didática e interessante.
A cena inicial do episódio mostrando a rotina dos moradores de Pripyat foi de uma sensibilidade sem igual. Pripyat era uma cidade próspera na época e acredito que isso foi muito bem retratado nessa cena, causando um contraste com a cena final, já com a cidade completamente abandonada. É impossível não se comover com a história daquele lugar e pessoas, vítimas das terríveis consequências daquele acidente nuclear e das negligências do Estado ao lidar com a situação. Acredito que por isso, a história de Chernobyl desperta curiosidade, fascínio e assombro em muitos. É uma história atemporal sobre a busca do ser humano pelo entendimento e domínio das ciências e o complexo de Deus proveniente disso. O bicho Homem sempre busca mostrar a superioridade e o poder dele sobre outros usando a ciência. A energia nuclear era um troféu para os soviéticos, assim como as bombas atômicas lançadas em Hiroshima e Nagasaki foram para os americanos. Tudo isso ilustra muito o que ouvi de um professor quando ele falava sobre Chernobyl certa vez: “O Homem é muito mais perigoso do que a radioatividade em si”. Ou seja, quando o ser humano acredita que o conhecimento dele é maior do que a ciência que ele manuseia, histórias como a de Chernobyl acontecem.
Infelizmente, é comum as pessoas relacionarem Química com algo ruim, mas ela não é. O complexo de Deus da raça humana é. Se analisarmos as piores tragédias do mundo, o ser humano é o elemento propulsor de cada uma delas, exatamente por não respeitar a natureza daquilo que ele acredita ter controle absoluto sobre. A constante dos acidentes de Chernobyl e com o Césio-137 em Goiânia não é a radioatividade.
Em Física, aprendemos que toda ação resulta em uma reação e aqui vimos claramente essa lei de Newton se desenhar na prática, com todas as ações tomadas acerca do teste no reator 4 resultando numa terrível reação: a explosão do mesmo. No primeiro episódio, me causou estranhamento a decisão de começarem a série com o acidente sem apresentarem os fatos que levaram até ali, mas a série estava guardando esse momento para o último episódio e que aula, meus amigos. A forma como casaram as cenas do julgamento com as ocorridas nas últimas 12 horas antes da explosão até aquele momento em si foi incrível. Quando o reator explodiu, eu já estava estático. Shcherbina e Legasov brilharam e todos os dilemas e frases deles foram muito bem colocados aqui. O diálogo confidencial entre os dois foi um deleite.
O único ponto que eu achei que não foi tão bem trabalhado na série foi a resolução do trabalho dos mineiros. Como a série nos mostrou anteriormente, as altas temperaturas dentro do reator exposto fizeram com que a areia, argila e chumbo jogadas sobre ele atingissem os seus respectivos pontos de fusão, o que produziu uma enorme lava radioativa cuja massa poderia romper a estrutura do reator e causar uma contaminação de proporções ainda mais catastróficas. Achei que poderiam ter mostrado ou talvez apenas comentado um pouco mais sobre essa lava, que foi responsável por gerar o material mais perigoso do mundo, que hoje é conhecido como pata de elefante, por conta da similaridade com uma pata do animal. Caso queiram saber mais sobre isso, procurem por “pata de elefante Chernobyl” ou “medusa nuclear” no Google. A proximidade de um ser humano com essa massa pode matar quase que instantaneamente, tamanha a quantidade de radiação liberada por ela.
Como resultado de todos os esforços para isolar o reator 4 naquela época foi criado um sarcófago que em poucos anos começou a se deteriorar e no fim, calculou-se que a vida útil dele seria de apenas 30 anos. O trabalho dos mineiros de carvão não foi apenas para conter a lava radioativa, mas também era uma parte essencial do projeto de isolamento do reator. Por conta da rápida deterioração do sarcófago, foi construído uma outra estrutura móvel que selaria de vez o reator. A instalação do novo sarcógafo foi transmitida ao vivo no ano de 2016. Estipula-se que ele terá uma vida útil de 100 anos, ou seja, Chernobyl deixará o seu legado para incontáveis gerações que terão que trabalhar arduamente para manter o local seguro e livre de riscos.
Enfim, Chernobyl foi uma grata surpresa e espero ver mais produções como essa na TV. Deu gosto de acompanhar. Além de ter sido uma verdadeira aula, foi um exemplo de que boas histórias podem ser contadas em poucos episódios. E agradeço ao pessoal que curtiu os meus comentários durante a série e me incentivou a continuar escrevendo. Valeu!
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