 |
Meu episódio favorito de 2020. No quarto capítulo já havia ficado implícito que aquela seria a última vez que veríamos Craig. Ainda assim, não estava preparado para ver a série lidando com uma tragédia da forma que fez aqui.
Luto é algo bem complexo, pois cada indivíduo passa por ele de uma forma e é sobre isso que foi o episódio. A negação, a raiva, a barganha, a depressão, todos os estágios da perda misturados antes de chegar à aceitação. Richard tenta jogar a responsabilidade para cima de Sarah. Jenny assume a culpa para si e envolve até seu caso no meio. Danny tenta expurgar os sentimentos na forma de raiva. Valentina é preenchida por um vazio. Caitlin deixa seu processo de auto-descoberta de lado, como se fosse insignificante perto da dor dos outros. Enfim, cada personagem lidou com a situação apresentando um comportamento distinto.
Muito interessante o grupo ter voltado para a casa onde viram Craig pela última vez. É simbólico que nada na casa seja mais o mesmo. A piscina está vazia e já não há mais ninguém morando lá. Até a estrada que os leva apresenta rachaduras. Eles até tentam usar drogas e colocar música, mas não conseguem se entorpecer com isso, afinal não tem como mais fugir da realidade: eles perderam um amigo. Aquela noite jamais voltará. Curioso como, naquele dia, cada um estava em um canto e pouco se via de interação entre eles – fora o sexo – e, aqui, eles são vistos próximos, se abraçando em vários momentos. Uma clara necessidade de sentir algo real, ao mesmo tempo de se segurar naquilo que eles ainda têm.
No meio disso, há Fraser. Ele não sente nada afinal ele nunca fez parte daquele grupo – Sam faz o favor de deixar isso claro ainda – e não conheceu Craig tão bem quanto os demais. Para Fraser, não há perda a se lamentar. Ainda assim, isso não impede de ele ter que lidar com alguma aceitação durante o episódio. Os anteriores já tinham me passado essa impressão, mas isso fica mais claro aqui. Ele não tinha percebido que tinha sentimentos por Jonathan além da amizade. Para o protagonista, o soldado era alguém que ele se sentia mais livre para conversar e se expressar, tal como Caitlin. Uma vez que a amiga não estava presente, ele recorreu ao outro apoio que tem ali na base. Conforme as coisas esquentam é que ele percebe não só as intenções de Jonathan, quanto as dele próprio e isso o assusta a ponto de ele fugir. É curioso como justamente o personagem que não entende a tragédia que aconteceu em volta dele traduza tão bem os que os demais sentiam, porém por outro motivo. Ele se assusta, foge, se nega, sente raiva, se entorpece com a bebiba, se isola. Tudo o que os demais fizeram por conta de uma perda, acontece com Fraser por conta de uma descoberta.
Por fim, temos a fantástica cena final. Religião é a muleta mais comum para as pessoas se apoiarem em situação de luto. É interessante que isso não foi trabalhado em nenhum momento do episódio além da última cena, sendo que é muito normal nesses casos de tragédia alguém puxar uma oração, ou mesmo buscar apoio em uma igreja ou equivalente. A sacada genial nesse caso foi ver justamente alguém fazendo isso numa ótica diferente da cristã. Danny não fez nada além do que muitas pessoas fariam no lugar dele, entretanto não duvido a cena ter causado um estranhamento em certas pessoas – especialmente, os estadunidenses.
Um dos subtextos mais interessantes da série para mim, é sobre como os EUA oprimem diversas culturas em favor da sua. Peguem Jenny, Maggie e Danny. Todos têm até nomes americanizados. Pouco se vê da cultura dos três e as duas mulheres principalmente são vistas como se fossem convidadas ali, que só pertencem por conta de Richard e Sarah. A trajetória de Danny, nesse sentido, é sensacional. É um personagem se reconectando com suas raízes, mesmo que o ambiente em volta seja totalmente contrário a isso – e não é coincidência ele sempre ter que fazer isso escondido. Querem um cidadão americano, querem um soldado americano, querem alguém para mandar para guerra e quando voltar morto dizer “alguns sacrifícios devem ser feitos para podermos dormir em paz à noite”.
“We never really thought this would last, did we? But I hope that you, at least, for a moment hoped the way I did.” Meu quote favorito da série até agora. Maggie, Jenny e Danny são os melhores personagens, sem dúvidas.
|
75
0
0 |