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A revolta da Teresa é bastante justificável. Ela, enquanto mulher negra, mais do que qualquer outro daquela casa, deve saber o que é ver todos os dias o Estado e suas tecnologias decidirem qual vida importa, sem qualquer julgamento equânime. E é só olhar as notícias honestamente para entender quais vidas importam para quem detém o poder em nosso país. Acredito que por isso a raiva dela para com o Robson: ele representava naquele momento, o do quase estupro, esse poder de fogo, que simplesmente abate porque pode.
Ainda que o Robson a tenha salvado (e obviamente se vangloriado por isso), o modo como ele fez foi arbitrário e é isso que a Teresa denuncia. Notem que nesse episódio novamente o Robson agiu como se fosse natural ser dele o papel de decidir o que era o ideal: ele foi lá, resolveu através da violência e ofertou o cara vivo para ser devorado, e fez tudo isso porque ele pôde.
Evidentemente eu compreendo o cenário da narrativa: em menos de uma semana de caos, e já é possível vislumbrar projetos anárquicos no horizonte. Se os Direitos Humanos e afins correm risco de extinção diariamente em nossa sociedade em "seus melhores dias", é muito ingênuo achar que as regras que nos mantêm "civilizados" sobrevivam ao pós-apocalipse.
A análise que eu trouxe aqui foi apenas para ressaltar a pertinência da raiva sentida pela Teresa, e se, com alguma sorte, o desenvolvimento da personagem for coeso, ela será uma das que terá maior desconforto em se adaptar com essa nova realidade.
No mais, de positivo essa série tem retratado o Brasil de forma verossímil. A "gente de bem" daqui é extremamente preconceituosa, parasita e apática.
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